Arraial do Cabo - MACAÉ - RJ
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CAMPOS DOS GOYTACAZES E MACAÉ
26-29/07/1994
A chegada de avião, sobrevoando o centro urbano de noite, com a luzes da cidade refletidas no rio Paraíba.
As pontes e os novos edifícios dão os contornos de uma cidade-polo regional, fincada no norte fluminense.
Campos mudou pouco na zona central. Guarda muito de seu aspecto provinciano dos anos 50 e 60, quando eu a conheci. O velho chafariz foi restaurado e, por sorte, os edifícios residenciais estão sendo levantados na periferia.
O calçadão da estreiteza e irregularidade das ruas do comércio, pouco sofisticado, um tanto antiquado.
Lembra aqueles negócios de árabes e portugueses que ainda predominavam nas zonas centrais de nossas metrópoles, onde as mercadorias são expostas com certo desmazelo para darem a sensação de liquidação e preços baixos.
Andei até a beira do rio. Lá do outro lado aparece, alvíssima, uma igreja. Uma imagem congelada na minha memória juvenil.
No hotel, os viajantes. Isso mesmo: gente de passagem, transeuntes, de férias, a caminho ou de regresso do Espírito Santo. O restaurante do Antares, além de peixes, oferece a tipicidade do chuvisco, um doce muito doce, mas muito apreciado.
Ainda estão lá os sobrados e casarões dos tempos dos barões das usinas de cana de açúcar.
Visitei o campus da UENF, a nova utopia de Darcy Ribeiro. Ele tentou a Universidade de Brasília mas o corporativismo de nossos dias transformou no que ela é — uma universidade que só é isonômica, com as demais, em seus vícios e mediocridades (com as exceções individuais de praxe, mas que não garantem maiores perspectivas.
A UENF está sendo programada para ser um novo paradigma acadêmico: centrada na geração do conhecimento, na pesquisa voltada para as tecnologias de ponta, com pessoal de excelência, todos a nível de doutorado e com produção científica. Quem administra o projeto é a minha amiga Gilka Wainstein, e a concepção física é do infatigável Oscar Niemeyer (que adaptou as estruturas pré-moldadas dos CIEPS para as novas funções.
É bom ver nascer e, sobretudo, participar e contribuir para um novo conceito de universidade. Tomara que a mudança de governo não enterre o sonho. O temor se justifica. Nos quatro anos do governador Moreira Franco, quase acabaram com os CIEPS, por uma mesquinha falta de visão ou, melhor, por ciúme e perversidade.
Rever Campos foi também antever o futuro. Soube da ideia da UENF de viva voz, no seu nascedouro. A própria Gilka, com o entusiasmo de sempre, relatou-me os planos e propostas, no aeroporto onde eu estava para uma viagem a Puerto Rico. No momento mesmo em que davam início às obras. Hoje os edifícios estão sendo concluídos, outros já ocupados pelos primeiros estudantes e pesquisadores.
A estrada para Macaé é uma via dupla, perigosa e congestionada. Paisagem ondulante, com o verde transitório dos canaviais, e o azulino do recorte gracioso e caprichoso da Serra do Mar, ao fundo. Noventa quilômetros em que a indústria açucareira ainda delineia o perfil rural e só as montanhas — onipotentes, cenográficas — quebram a suavidade dos morros plantados e dos vales tranquilos.
Macaé cresceu muito, muitíssimo, com a exploração do petróleo em alto mar. O centro urbano é feio, com edifícios sem qualquer estilo, mas a orla marítima continua pitoresca e com um deliciado aspecto interiorano. Nos arredores, com praias e lagoas, brotam os novos e opulentos bairros residenciais, muitos deles privativos, com tantas construções e tantas residências ostentosas.
Em Macaé, quando ainda era apenas uma vila de pescadores e um balneário distante, andei no início da década de 60. De noite, na praia, conheci um rapaz talentoso e começamos uma parceria musical, uma canção nostálgica, à luz do luar, que nunca chegamos a completar:
“A lua cheia
quando nasce em Macaé,
ilumina sobre a areia,
vagas triste da maré.”
Guardo uma foto daquela oportunidade, mas jamais revi o jovem. Chamava-se João Roberto Kelly, antes de tornar-se o consagrado compositor de marchas e sambas carnavalescos.
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